segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Contrato

Ela sabe, ele sabe, os dois sabem muito bem.

Mas naqueles pequenos instantes, nas poucas horas que ficam juntos, eles fingem.
Como um contrato selado em silêncio.
Eles brincam de faz de conta. Em frases curtas e beijos longos. Em abraços apertadamente demorados e silêncios de cumplicidade. Olhares que se cruzam apaixonadamente sinceros, com corações que nem sempre disparam.
Ambos sabem que são apenas pessoas substitutas, numa brincadeira de suprir carências.

Ela sabe , ele sabe, os dois sabem muito bem.
Mas esse "faz de conta que somos um lindo casal feliz" ainda é bem mais real que muitos relacionamentos reais nos quais ambos estiveram.
E isso dói. Ao mesmo tempo em que é doce para sua boca, um bálsamo em sua alma, é também fel no coração.
Eles estão ali, com mãos tão reais e um cheiro tão real, mas é só uma brincadeira de faz de conta. Um amor de verão. Intenso, porém efêmero. Tão impiedosamente efêmero.

Ela sabe, ele sabe, os dois sabem muito bem.
Os termos do contrato foram aceitos: não se envolver além do necessário, não perguntar demais, apenas deixar as coisas leves, divertidas, românticas...
Cada um cumpre o seu papel. Sem dizer palavra sobre o assunto, que é pra não estragar o clima.
Mas, mesmo assim, nesse compromisso descompromissado, eles têm medo de se perder. Um medo real. Dá uma vontade de ir quebrando as cláusulas do contrato uma após a outra, sem parar...
Mas eles apenas se despedem, sem promessas. Apenas uma troca de telefones onde os dois sabem que não vão ligar.

Apenas se despedem, para quem sabe "fazer de conta" no verão que vem.
E partem, com o coração nas mãos, sem poder entregá-lo.
Afinal, eles são apenas substitutos.

Ela sabe, ele sabe, os dois sabem muito bem.

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